A legislação brasileira que protege as pessoas com deficiência é considerada uma das mais abrangentes do mundo. No entanto, apesar do amparo legal, profissionais com deficiência têm um duplo desafio: vencer o preconceito da sociedade ― e do próprio mercado ― e enfrentar empresas e gestores, não raro, despreparados para recebê-los.
De acordo com o último censo do IBGE, realizado em 2010, mais de 45 milhões de brasileiros declararam ter algum tipo de deficiência, o que corresponde a quase 24% da nossa população. Desses, porém, apenas pouco mais de 400 mil estão empregados, ou seja, menos de 1% do total, e seus ganhos em muitos casos não passam de 1 salário mínimo.
Mas como mudar essa situação? Apenas acabar com o preconceito não basta. É preciso que oportunidades sejam criadas, principalmente por meio da educação e capacitação para o mercado, a fim de que profissionais com deficiência tenham condições de ascender em sua carreira e ter competitividade. Vamos refletir sobre isso? Continue a leitura!
O que diz a legislação trabalhista para pessoas com deficiência?
A inclusão obrigatória de profissionais com deficiência nos quadros das empresas é prevista por lei há mais de duas décadas. Em 1991, foi criada a chamada “Lei das Cotas”, que define que as empresas a partir de 100 colaboradores devem manter uma porcentagem de funcionários com deficiência. Essa proporção varia entre 2% (organizações com até 200 funcionários) e 5% (acima de 1.000). Empresas que não cumprirem a lei podem receber multas elevadas.
Já em 2015, o Governo Federal promulgou o Estatuto da Pessoa com Deficiência, lei “destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”, como afirma a abertura do texto.
Os vários artigos e parágrafos do Estatuto buscam garantir o direito à capacitação profissional e à educação para que a pessoa com deficiência consiga adquirir conhecimentos e desenvolver habilidades e aptidões para o ingresso (e permanência) no mercado de trabalho.
De maneira prática, isso significa que as pessoas com deficiência devem receber as mesmas oportunidades de profissionalização que os demais indivíduos. O que implica participação em “cursos, treinamentos, educação continuada, planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais”, diz o texto.
Portanto, promover a inclusão significa compreender as reais necessidades de cada pessoa a fim de garantir a acessibilidade para o desenvolvimento do ensino. Logicamente, pessoas com melhores condições de aprendizagem têm mais chances de aumentar seu desempenho no mercado.
Como a educação auxilia no crescimento profissional das pessoas com deficiência?
Pessoas com deficiência vivem diariamente o desafio de romper limites físicos e psicológicos até alcançar a superação. No mercado de trabalho, como profissionais, para que elas consigam igualdade de direito à educação, é preciso que empregadores e instituições de ensino desenvolvam programas que as acolham.
Isso significa traçar um planejamento de qualificação profissional ou implantar metodologias de ensino personalizadas a cada perfil de deficiência. Além disso, para receber as pessoas com deficiência é preciso construir espaços físicos adequados, adaptar a tecnologia, utilizar material didático apropriado e, o mais importante: garantir um corpo docente e de funcionários com sensibilidade para lidar com esse público.
Auxiliar os estudantes e profissionais com deficiência a sobreviverem (e principalmente crescerem) num mercado de trabalho tão competitivo e voraz como o atual significa agir com os olhos do coração e enxergar cada potencial além da deficiência. Trata-se de uma conscientização para a igualdade.
Como promover a inclusão na sala de aula?
Apesar do preconceito que ainda insiste em dar as caras em muitos lugares, felizmente esse assunto já está sendo muito discutido e existem ações que estão permitindo que o profissional com deficiência venha de uma trajetória mais acolhedora e, sobretudo, de aprendizado consistente.
Muitas dessas ações começam, sem dúvida, na escola, pelas mãos dos educadores. Veja a seguir algumas formas de se promover um trabalho inclusivo em sala de aula, de maneira a aumentar as oportunidades de aprendizado.
Falar abertamente sobre a inclusão
Debater a inclusão pode ser um diferencial para que o estranhamento seja minimizado. Ao criar momentos de discussão sobre o tema, o professor incentiva a desconstrução de crenças, preconceitos e promove a solução de dúvidas. Além disso, permite que os alunos com deficiência ganhem voz e demonstrem, inclusive, suas potencialidades.
Vale lembrar que tal debate deve acontecer com a ciência das pessoas com deficiência, afinal de contas, nesses momentos elas ficarão em evidência e constrangimentos devem ser evitados.
Utilizar recursos didáticos diversificados
Se a personalização da metodologia pedagógica é uma tendência na educação contemporânea, no caso das pessoas com deficiência torna-se uma condição essencial para o alcance de melhores resultados. É importante que a didática do professor e os recursos utilizados em sala de aula ― e por consequência na instituição, de maneira geral ― permitam que o aluno com deficiência tenha plenas condições de aprendizagem.
Para tanto, é preciso que a instituição e o professor reconheçam quais as deficiências mais comuns e preparem materiais adaptados a essas necessidades. Veja alguns exemplos de recursos:
-
material em Braille;
-
aplicativos de computador sensíveis ao comando de voz;
-
aprendizado de Libras;
-
ambiente EAD adaptado (conteúdos em vídeo com legendas, audiodescrição, entre outros);
-
provas adaptadas à necessidade de cada aluno com deficiência.
Assumir a posição de tutor
Trabalhar com alunos com deficiência exige que o professor foque mais sua atenção neles. Isso significa que o docente deverá garantir que os conteúdos estejam sendo minimamente absorvidos dentro do que se espera para o ambiente da sala de aula.
Além disso, é preciso certificar-se de que os recursos e a comunicação estão sendo eficientes nessa relação aluno-professor, especialmente se o caso representar uma deficiência mental/intelectual.
Ser flexível
A flexibilidade por parte do professor é imprescindível ao trabalho com pessoas com deficiência. Conforme a limitação, o tempo de desenvolvimento das atividades, bem como para a compreensão dos conteúdos, pode ser diferente.
Assim, o professor precisa ser capaz de estabelecer parâmetros para a conclusão dos conteúdos e mesmo formas de avaliação que propiciem a esses alunos a possibilidade de mostrar todo seu potencial de aprendizado.
Aprender a lidar com momentos críticos
Muitas vezes, a deficiência pode vir acompanhada de momentos de crise, como convulsões e acessos de raiva. Por isso, o professor e demais estudantes devem estar preparados para enfrentá-los de maneira natural e sem pânico.
Para tanto, mais uma vez é preciso envolver a turma no processo de acolhimento do colega com deficiência e conhecer procedimentos de emergência que envolvam não apenas os alunos e o professor, como também o restante da instituição.
Atitudes como essas podem representar um grande diferencial para ajudar na ascensão da carreira de profissionais com deficiência. Melhores salários e cargos mais altos estão diretamente relacionados a uma boa educação.
Por isso, é papel das instituições de ensino promoverem uma cultura em torno da inclusão. Por fim, o mesmo preparo deve ser estendido às empresas em seus programas de educação continuada e incentivo à qualificação profissional.
Para que possibilitemos uma sociedade mais igualitária, é preciso permitir que todas as pessoas se desenvolvam com as mesmas oportunidades. Você também pode fazer sua parte. Comece compartilhando este artigo nas redes sociais e debata o tema com seus amigos!